Como Brasil e China pretendem fechar negócios sem usar dólar americano
Brasil e China deram mais um passo para aprofundar sua cooperação comercial – e para excluir uma possível influência americana nos negócios entre os dois países.,
Brasil e China estreitam laços e criam uma “Clearing House” para aprofundar a cooperação comercial e excluir a influência dos EUA. A nova instituição bancária permitirá que as transações entre os dois países sejam realizadas em yuans, sem precisar converter para dólares americanos.
O Banco Industrial e Comercial da China será responsável por operar a câmara de compensação no Brasil, permitindo que empresários dos dois países possam fazer transações comerciais e empréstimos em yuans.
A China é a maior parceira comercial do Brasil há 13 anos, e essa nova iniciativa busca diminuir a distância entre as transações de commodities e produtos de maior valor agregado. O Brasil é o maior destino de investimentos chineses no mundo, e a adesão ao BRI, um programa de empréstimos e financiamentos em infraestrutura de Pequim, está em discussão.
A iniciativa é vista com preocupação pelos Estados Unidos, que tentam estreitar os laços com o Brasil. O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, cancelou a viagem à China por motivos de saúde. O fórum reuniu mais de 500 empresários dos dois países em Chaoyang, um bairro nobre da capital chinesa.
Ainda não há consenso sobre as repercussões no setor, até porque a negociação avançou no aspecto político-diplomático, mas está distante de uma execução prática, por enquanto. Em conversas com economistas foram levantados aspectos negativos, como:
1- dado que o dólar é a moeda mundialmente aceita e a forma de pagamento feita por nossas exportações, estaríamos abrindo mão de acumular reservas na moeda norte-americana.
2 -Além de exportador, o Brasil do agro também é importador e sem dólar em nossas reservas, teríamos dificuldades para efetuar as compras de insumos, por exemplo.
3- Pressão internacional vinda de outros parceiros comerciais como Europa e Estados Unidos.
Já do lado positivo, apareceram:
1- possibilidade de redução no custo da transação financeira, dado que hoje é preciso vender yuan, comprar dólar, vender dólar e comprar real. Isso diminuiria com a transação direta yuan-real, podendo reduzir encargos.
2- Brasil passaria a ser disputado entre Estados Unidos e China, que tentam emplacar sua moeda como fonte principal das transações, e isso poderia aumentar nosso poder de barganha e negociação.
3- A política monetária brasileira se tornaria menos dependente da monetária norte-americana
Os Estados Unidos são a maior economia do mundo há décadas e o dólar é a principal moeda utilizada nas transações comerciais globais. A China busca assumir essa posição dominante dos EUA e recentemente assinou acordos com a Rússia e a Arábia Saudita para o uso do yuan em transações comerciais.
Embora o governo brasileiro tenha afirmado que o uso do sistema chinês não é obrigatório, o economista André Perfeito acredita que essa estratégia pode ser arriscada, embora faça sentido para o Brasil. O Brasil pode se beneficiar ao deixar os EUA e a China disputarem por sua atenção, mas é um jogo delicado. Perfeito aconselha o Brasil a “vender caro” essa posição privilegiada, se optar por essa estratégia.
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