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A mulher da casa abandonada.

Podcast produzido pela Folha SP, chegou ao topo das paradas nas últimas semanas.

A história por trás de um casarão abandonado no metro quadrado mais caro de São Paulo, vem chamando atenção das pessoas desde que o caso foi retratado em um podcast. Assim como muitas pessoas da região, o jornalista da Folha, Chico Felitti, ficou intrigado com uma casa de grande porte naquele estado, em suas pesquisas ele acabou descobrindo uma história macabra que envolve a dona da mansão.

A moradora da casa é Margarida Bonetti, uma senhora de 63 anos, procurada pelo FBI por cometer um dos crimes mais hediondos já vistos, acusada de trabalho análogo a escravidão e agressão contra a ex-empregada. Junto com seu ex-marido, Renê Bonetti, o casal manteve a senhora por mais de 20 anos sem pagar pelos serviços prestados e a privando de acessos básicos, como, saúde e convivência em sociedade.

O podcast narrado por Chico, possui trechos de conversas com Margarida e relatos de pessoas que a conhecem, o jornalista viajou para a cidade do ocorrido, nos Estados Unidos e entrevistou a mulher que denunciou o caso e também a empregada que hoje em dia possui mais de 85 anos. Renê, cumpriu uma pena de 7 anos e pagou todos os salários atrasados para a senhora, e sua ex-esposa virou foragida do FBI.

Reprodução/Podcast A mulher da casa abandonada

Desdobramentos

Com toda repercussão o caso saiu do meio dos streamings e tomou conta das televisões, recentemente, vários canais produziram matérias sobre o casal brasileiro que escravizou uma empregada nos Estados Unidos, sempre com a ética em primeira mão. Mas como jornalismo de qualidade acaba virando circo em nosso país, na última quarta-feira (20/07), uma edição especial do programa “Brasil Urgente”, fez a cobertura de uma operação especial feita no casarão de Higienópolis, com uma narrativa abusiva, informações erradas e transmissão ao vivo para milhares de pessoas sem a permissão da dona da residência. A polícia cumpriu o mandato de busca para avaliar e verificar se Margarida possui condições para viver na residência, uma vez que vizinhos denunciaram a mulher como uma vítima de abandono de incapaz.

Reprodução/Simon Plestenjak/UOL

A transmissão simultânea aconteceu no programa apresentado por Datena, que teve ainda a ajuda da ativista pelos direitos dos animais, Luísa Mell, que esteve no local e durante a abordagem policial tentou socorrer os cachorros de Margarida gravando uma live para 18 mil pessoas em seu perfil pessoal. O tanto de curiosidade acerca do caso movimentou as pessoas que invadiram a privacidade de Margarida, uma vez que ela não autorizou a gravação ao vivo de dentro da sua casa. A bagunça generalizada sob tal assunto, tirou todo foco do principal problema, o fato de Margarida Bonetti ter escravizado uma pessoa por 20 anos, batido e humilhado e mesmo assim viver plenamente sem quaisquer condenação enquanto a vítima sofre gatilhos até o dia de hoje, por mais que ela esteja vivendo da indenização paga por Renê após a conclusão de sua condenação.

A casa

Reprodução/Google Street View

Deixada de herança para as três filhas, o casarão que fica localizado na rua Piauí, em Higienópolis está prestes a ser leiloado, mas até o atual momento a mulher ainda vive sob as condições deploráveis da casa abandonada. Uma irmã da Margarida virá de Campinas-SP para morar no local até que o processo de bens seja finalizado e a divisão da herança chegue ao final. A família ainda possui fazendas no interior de Minas Gerais e outras mansões espalhadas por São Paulo, a fortuna conta também com barras de ouro, obras de arte e cerca de R$ 5 milhões de reais.

Outras tantas mulheres

Infelizmente, vivemos num país que possui traços racistas em sua origem, por mais que a abolição da escravatura tenha sido à 134 anos, pedaços desse período perpetuam até hoje na sociedade brasileira. O caso acima, não é isolado, Margarida Bonetti, por mais que apresente características de uma mulher inconsequente, na verdade é a representação de um Brasil escravocrata, ela não é, e nunca será a vítima desta história, a forma como que o caso ficou conhecido, faz com que os olhos se voltem mais para a situação dela em si, do que da justiça nessas situações. A empregada da família Bonetti, foi entregue ao casal como um “presente” da mãe de Margarida, e diante as acusações ela alegou que tinha a doméstica como uma “amiga” que mantinha contato desde os 9 anos. A vítima, que prefere não ter o nome divulgado, ficou anos sem ir ao médico, chegando a desenvolver um tumor no útero do tamanho de uma bola de futebol, feridas na perna e desnutrição, causadas pela falta de alimentação.

A revelação deste crime é apenas a ponta de um iceberg de problemáticas que está longe de terminar, em 19 anos cerca de 2,3 mil mulheres foram resgatadas, como é o caso recente de Madalena, diarista que morava na casa dos patrões, não tinha registro em carteira, nem salário mínimo garantido ou descanso semanal remunerado, ficou 38 anos em trabalho análogo à escravidão, foi salva graças aos bilhetes que colocava embaixo da porta dos vizinhos, pedindo ajuda. O conhecimento desses e outros casos pela população, é um passo fundamental para que a sociedade se posicione, e esse tipo de relação não tenha mais nenhum espaço. Caso você saiba de algum caso de trabalho análogo à escravidão, disque 100 e denuncie!

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