O normal não vira pauta!
Por Isabele Campos
O assunto da nossa coluna hoje era outro, mas aos 45 minutos do segundo tempo…mudanças de plano. E a pauta é assim mesmo, quando a gente menos espera ela “cai” (não faz mais sentido veicular aquele assunto) ou surge outra mais urgente, de maior relevância. A notícia não espera e nem tem hora para acontecer, afinal, um acidente, por exemplo, é inesperado. Aliás, se tem algo que vira pauta é o acidente. Só que tem um tipo em específico que a gente pouco vê nos noticiários e é dele que vamos falar hoje.
Foi um susto. E esse era só o começo do caminho que iríamos percorrer. De um instante para outro eu tinha deixado a minha cama e estava no corredor de um hospital a espera de notícias. Aquele se tornaria um ambiente comum, assim como a angústia pela espera de informações cada vez que ele entrava em uma sala cirúrgica. Meses de recuperação. Ele estava vivo e era isso que importava. “Poderia ser pior”, era o que escutávamos. Mas a frase que mais nos marcou foi “É assim mesmo. Isso acontece”. ACONTECE??? Escrevo com palavras maiúsculas porque a vontade era de gritar mesmo! Calma, eu explico.
O parágrafo acima é um pequeno relato de como nossas vidas mudaram. Era só mais um dia de trabalho e acabamos em uma batalha pela vida e também por direitos. Alguém próximo sofreu um acidente de trabalho. Poderia ter sido mais grave, só que graças a Deus, e a um brilhante médico, a situação pode ser revertida. Só Deus mesmo, porque nesse Brasil… acidente de trabalho parece corriqueiro. Tanto que nem vira notícia. Mas acidentes de trânsito podem até serem mais comuns e mesmo assim são noticiados todos os dias. Qual o problema? Eu não tenho respostas, mas tenho relatos.
Fui a procura de dados, o mais recente que consegui é de 2018. Aliás, esse negócio de conseguir números em nosso país…bom, deixa para outro dia. Vamos voltar aos acidentes de trabalho. Dados de 2018, do Governo Brasileiro, apontam cerca de 577 mil brasileiros acidentados por causas relacionadas ao trabalho. Neste número estão inclusos acidentes típicos, de trajeto e doenças trabalhistas. Todas podem mudar não só uma vida, mas como várias, para sempre. Mas “é assim mesmo. Isso acontece”. Parece fictício, porém eu te asseguro que é real essa frase. Foi o que um acidentado escutou de seu gestor.
– Passei por algo parecido.
-Teve sorte, com fulano foi pior.
-Que coincidência, tal pessoa também viveu isso.
É isso que alguém que se acidentou no trabalho escuta. Parece comum. E o que é normal, não é noticia. Talvez a gente tenha normalizado os acidentes trabalhistas. E por quê? É o que eu te pergunto. Para responder essa questão um simples texto em uma coluna é pouco. Precisamos ouvir historiadores, economistas, empresários, políticos… muita gente. Só que eu posso gerar questionamentos em você e também interesse. Assuntos de interesse da população são notícias…fica a dica!
Bom, eu sei que você quer saber o motivo da pauta ter mudado. Então vamos lá. Pouco antes de começar este texto, com assunto até então já definido, tive que adiar minha escrita. Isso porque surgiram complicações na vida daquele acidentado, o que me atinge diretamente. Piorou de saúde? Não, mas se continuar o problema talvez. Como se o acidente em si já não fosse problema suficiente para a pessoa lidar, tem que resolver os assuntos burocráticos junto a empresa, o que nem sempre é fácil. E não vou nem citar a questão do INSS. Ah, Isabele, é sempre culpa do governo e da empresa? Nem sempre, se a burocracia é grande e os empecilhos também, é que às vezes as pessoas tentam ser espertas demais…se é que me entende.
O problema é maior do que parece, já deu para perceber. No decorrer desta coluna com toda certeza vai virar pauta mais assuntos relacionados a essa questão. Bom, por hoje o que eu queria era deixar a mensagem de que pelo menos o início da resolução de um problema pode ser ele se tornar pauta. Algo que normalizamos não vira pauta. Então eu te pergunto, será que é normal isso que você vive?
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