Manhãs de Setembro, a Série que você precisa ver ainda este mês
Por Gonzaga Júnior.
Piadas a parte, Manhãs de Setembro é uma incrível série lançada pela Amazon Prime Video e estrelada por Liniker que, contrariando o paradigma de que cantores não dão bons atores, entrega uma atuação incrível no papel de Cassandra, uma mulher trans que descobre quase que do nada que tem um filho e que ele já tem 10 anos, Gersinho (filho de Cassandra) é também muito bem interpretado pelo ator mirim Gustavo Coelho, que consegue entregar a emoção que precisamos sentir; E por falar em entrega de emoções a mãe de Gersinho, Leide, é a clássica personagem feita para ser odiada, ela não toma
nenhuma decisão decente e cada momento de tela dela é uma raiva diferente que sentimos, deixando a série ainda mais bem avaliada no quesito emoção.
Voltando a história, a trama da série é bem dividida e construída de forma linear enquanto nos mostra a vida de Cassandra e como ela se desdobra em duas para conseguir sobreviver à selva de concreto paulistana, a jornada de Gersinho para ser aceito por “seu pai” que agora é uma mulher e ele passa a lidar com isso e com a tentativa desesperada de Leide para conseguir dinheiro para tentar pelo menos garantir o sustento do dia e, mesmo que tomando decisões erradas e questionáveis, a personagem mostra que, apesar de tudo, ela só quer sobreviver e garantir a segurança do filho que ela tanto ama.
Um ponto a se ressaltar da série é a direção de fotografia e som, as músicas se encaixam perfeitamente com o sentido da trama e constrói ainda mais o ambiente musical que Cassandra vive, as músicas dão a alma da série, além de que em cada momento onde Liniker canta, sua voz poderosa atinge as camadas mais profundas dos nossos corações fazendo-nos sentir aquilo que ela está passando naquele momento.
A fotografia da série é surpreendente, com takes ousados e abusando de forma correta de cenas aéreas e no foco no rosto das personagens, com paletas de cores frias o tempo todo traz o cinza de São Paulo e a “falta de cor” na vida das personagens; Por falar em são Paulo, algumas das cenas são lentas e repetitivas de propósito (em especial as de trânsito) para que o espectador se localize e sinta a “vibe” paulistana de trânsito carregado lentidão e rotinas iguais a da cidade. Outro ponto interessante é a movimentação das câmeras e como a direção trabalha os planos de imagem onde diversas vezes esconde e revela importantes informações simplesmente trocando ângulos ou apenas deixando a cena fluir e construir camadas de informações para nós espectadores entendermos o contexto da cena e usa esse artificio as vezes para criar duvidas se aquilo que está acontecendo é realmente isso ou ainda tem mais a ser mostrado trazendo uma ansiedade saudável para quem a assiste.
Manhãs de Setembro não é uma série feita para ser divertida nem para causar curiosidade, na verdade alguns momentos são até previsíveis, porém isso não prejudica em nada a série acredito inclusive que isso é proposital pois assim, quem a assiste, não tem sua atenção presa a algum mistério ou piada e sim a atenção é levada para as importantes críticas sociais que a série nos traz, principalmente em relação a vida de pessoas trans, trazendo vários momentos de reflexão para o público que desconhece essa realidade. Essa é sem dúvidas uma série para ser assistida com calma e que vai pretender a sua atenção e te fazer desejar por uma segunda temporada logo.
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