A Pauta

Qual o mundo real?

Por Isabele Campos.

Na pauta de hoje: choque de realidade!

Sempre digo que bom seria se pudesse sempre noticiar coisas boas e felizes, mas sabemos que a realidade é outra. Aliás, é essa tal realidade o assunto de hoje.

Há quem acuse os jornalistas das coisas ruins do mundo, como se noticiar tristes realidades fosse uma grande fake news e a verdade seria um mundo de conto de fadas. Quem dera se assim fosse. Sim, claro que existem veículos que escolhem as piores pautas possíveis, por motivos “x” e “y”…Mas deixa eu te contar um segredo: tragédia “vende”. Nenhuma mídia sobrevive sem público e se pautas terríveis são maioria e existem programas voltados somente para tragédias, é porque tem muita gente interessada. E como tem. Já falamos aqui dá questão de interesse na notícia, né? Mas, enfim, esse não é o assunto principal de hoje.

Nesta terça-feira (28), jornais do mundo inteiro noticiaram um dos acontecimentos mais tristes dos últimos meses. Daquelas que nos traz a realidade, que nos tira do nosso mundinho, que “sacode a poeira” e nos leva a refletir, ou deveria. Da manchete até a última linha ou última palavra, essa notícia é triste. Cada vez que me aprofundava no acontecido, mais eu me chocava. Estou falando do caminhão abandonado com pilhas de corpos encontrado no Texas.

 Foto: Jordan Vonderhaar/Getty Images via AFP

Essa não é a primeira e não será a última notícia triste, chocante e impensável envolvendo imigrantes que noticiaremos, infelizmente. Esses fatos são a ponta do iceberg de uma realidade que preferimos deixar submersa. É aquela história de que o coração não sente o que os olhos não veem. Mas eu não sei você, quando coisas assim ganham os noticiários do mundo e levam até o Papa a se pronunciar, eu tenho um choque de realidade.

O mundo está cheio de realidades tão chocantes quanto a dos imigrantes, mas não é a nossa e por isso não nos atinge diretamente. Realidades que por tão absurdas e impensáveis, chocam com notícias como a do Texas, que provocam uma onda de empatia, que logo quebra na praia. E depois? A dor fica pra quem vive aquela verdade, não para o mundo.

Enfim, a única coisa que conseguia pensar com a notícia dos imigrantes mortos no baú de um caminhão de forma desumana, foi: como eles viviam? Quão ruim precisa ser sua vida para se submeter a atos tão extremos quanto a desse povo? O quanto somos um mundo globalizado? Até onde vai nossa empatia e dor pelo próximo? Qual o meu mundo? Qual o mundo real? É, eu sei, pensei mais de uma coisa. Pensei muito. Doeu. Mas a verdade? Daqui umas semanas o mundo esquece e quando menos espera o choque vem novamente, a notícia impensável surge. Até quando?

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