Impacto

A primeira grande polêmica da história

Abertura das primeiras ruas gerou confronto entre o Coronel e o Major


Por Paulo Antônio de Carvalho.

 Dois homens de pulsos firmes, do tipo “duros na queda” travaram a partir de 1890 a maior polêmica da história de Cruzeiro. De um lado, o Major Manoel de Freitas Novaes, dono da Fazenda Boa Vista e líder os monarquistas na região. Na oposição, o Coronel José Joaquim Ferreira, líder dos republicanos e intendente de Cruzeiro.

PARA ENTENDER – Para a construção da Estação Central na junção das duas ferrovias, foi necessária a desapropriação de cerca de 30 hectares de terras da Fazenda Boa Vista entre a margem esquerda do Rio Paraíba e a Estrada Embaú – Pinheiros (atual Rua 2).

A partir da inauguração da Estação Central, no dia 7 de setembro de 1884, a Companhia The Minas And Rio concedeu lotes ao redor do entroncamento ferroviário (ruas 1 e 2), para a construção de residências, comércio e hospedaria. Necessária a medida em função do trânsito de trens de cargas e de passageiros entre os três estados.

Devido ao rápido crescimento motivado pelas duas ferrovias, a área cedida pela companhia foi logo ocupada. Perto de 1887, a chegada de novos moradores implicaria na ocupação de mais terras da fazenda do Major Novaes

Assim, teve início a grande polêmica. Indisposto a vender lotes, Novaes propunha que os interessados construíssem suas casas desde que pagassem aluguel pelo terreno ocupado. Claro, em são consciência, ninguém aceitaria absurda proposta. Nas poucas áreas invadidas, Novaes mandava seus capangas derrubarem de noite as paredes erguidas de dia.

Político de forte influência no Embaú, o Coronel José Joaquim Ferreira impôs dura resistência ao Major Novaes. A disputa perdurou por cerca de sete anos até que a imposição do major fosse aniquilada.

Primeiro, Ferreira tratou de publicar no jornal Gazeta de Notícias, do Rio de Janeiro, em 18 de fevereiro de 1888, uma nota de protesto popular contra o major. No texto, Novaes foi citado como tirano e de rapina. Em seguida, o jornal foi anexado ao pedido do Coronel José Ferreira ao governo do Estado, para a desapropriação de aproximadamente 33 hectares da Fazenda Boa Vista, para a expansão da Vila da estação.

A desapropriação, oficializada em 12 de abril de 1890 pelo presidente da Província de São Paulo, Prudente de Moraes, proporcionou a oferta de lotes e a abertura das ruas 3 e 4.

Além da desapropriação, o governo estadual nomeou José Ferreira como perito avaliador. O fato gerou forte repulsa do major Novaes. Ele não aceitaria facilmente perder parte da fazenda e ainda mais sob a avaliação de seu maior inimigo político. Na tentativa de manter o domínio do Povoado da Estação do Cruzeiro, o major tratou então de criar seu próprio município, dando a ele seu sobrenome, através do decreto governamental de 3 de junho de 1891. O Município de Novaes teve vida efêmera. Menos de um ano após, o decreto foi anulado também por interferência do Coronel José Ferreira.

Diante de mais uma derrota, Novaes insistiu nas ações noturnas de demolição das casas, mesmo após ter recebido o montante da desapropriação. A ação rendeu contra ele novo protesto, dessa vez registrado na Ata da sessão da Câmara, sediada no Embaú, no dia 15 de setembro de 1894.

Além da demolição de casas, Novaes ainda mandava seus capangas soltarem cães bravos na Estação Central com o intuito de amedrontar os passageiros. Os cães apenas foram retirados depois da intervenção da polícia, em julho de 1895.

Manoel Novaes morreu no dia 13 de fevereiro de 1898, três anos antes da data de oficialização do Povoado da Estação do Cruzeiro como sede do municio, em 2 de outubro de 1901. O Coronel José Ferreira viveu até 1935 e testemunhou avançar até a Rua 8 a cidade que ajudou a projetar.

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