Você não sabe nada a respeito
Por Isabele Campos.
Definir a pauta não é sempre uma tarefa das mais fáceis. Existem dias que elas chovem na redação e a dificuldade é decidir quais manter ou não. Nesse dia a gente coleta água da chuva, digo, guardamos um pouco para os dias de estiagem. Quando tudo vira um deserto, aí dá desespero. Afinal, jornalista gosta mesmo é dá adrenalina e loucura. Mas, nesses dias onde as pautas são escassas, a gente para e observa. Pronto, a matéria surge na frente dos nossos olhos. Foi o que aconteceu hoje quando fui definir a pauta do dia, dessa coluna.
Quis fazer essa introdução toda, com explicação sobre definição de pauta, pois era importante dizer a você que nosso assunto de hoje é um que valeria muitas pautas todos os dias, mas nem sempre criamos coragem para fazer acontecer. Pensei em escrever sobre esse assunto nas outras vezes que apareci por aqui, mas sempre arrumava uma desculpa. Um assunto aparentemente mais importante, que fazia a tal pauta cair. Falta de tempo para fazer uma pesquisa elaborada para abordar o tema. Todo mundo já está falando, quero algo diferente. Na verdade, tudo isso aí foi desculpa que arrumei. Você vai entender.
Não gostamos de estarmos vulneráveis. A gente adora falar dos outros, mas quando o assunto são as nossas fraquezas…ai que o bicho pega, a gente desconversa…Mas hoje não tive como fugir. Primeiro veio um relato lindo, depois uma matéria sobre, e aí eu tive que definir a pauta de hoje como: saúde mental. Porém, eu quero falar sobre o que quase ninguém fala. Ou melhor, sobre o que os pacientes não falam. Sobre o que as pessoas não veem.
Me assustei quando li nas redes sociais o relato de uma pessoa que conheço, dizendo que vem lutando contra doenças mentais. Ela contava sobre tudo que passou nos últimos meses. Não é uma pessoa próxima a mim, apenas uma conhecida que acompanho sua vida pelas redes sociais. Eu não vi nada do que ela contou nesse relato durante os últimos meses. Fiquei assustada. Lembrei daquela frase: “Todo mundo que você encontra está lutando uma batalha que você não sabe nada a respeito. Seja gentil.”. A maior verdade dos últimos anos.
Relutei abordar o assunto pois é algo da minha vida. Lembra que a gente não gosta de ser vulnerável? Mas não vamos falar de mim e sim das pessoas que me cercam. As mais próximas e importantes de minha vida. Elas lutam uma batalha enorme nesse momento contra doenças mentais. E se você não vivenciou isso de perto, não terá noção da dimensão. Não sabemos como ajudar. Sério, a gente acaba de mãos atadas. Vejo que uma maneira de ajudar é dar compreensão, carinho, vigilância, apoio e incentivo a procurar ajuda dos profissionais que poderão fazer algo.
Agora o mais importante. Nem sempre doenças mentais são visíveis. Você vai conversar com a pessoa, se divertir com ela, dar risadas…e pode não perceber. Digo por experiência própria. Então, EMPATIA! Como irrita quando não entendem que o fato da pessoa aparentar estar bem, não quer dizer que realmente está. Aquele momento bom ali, pode ser um momento de muita luta para vencer sua batalha. Sim, o processo de cura é uma luta árdua.
Eu sei que na minha função de jornalista eu devia trazer números e falas de profissionais da área para termos noção da dimensão. Mas hoje eu só queria te dizer isto, sobre não julgar. Nos bastidores as coisas são sempre diferentes do que imaginámos. Seja apoio e auxílio, a mão que ajuda a levantar e não a derrubar. Os dados e as palavras de profissionais a gente deixa pra outra matéria. Vamos marcar para depois de setembro, já que o assunto este mês já anda em pauta e precisamos falar sobre durante todo o ano também.
Preciso repetir para mim e para todos:
“Todo mundo que você encontra está lutando uma batalha que você não sabe nada a respeito. Seja gentil.”
Empatia!
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